terça-feira, 26 de julho de 2011

Morrer sem viver.

Morrer sem sequer ter vivido. Este é o resumo da vida de um drogado. Desculpem-me a frontalidade.
Sentado, encolhido, encostado à parede do seu quarto, segurando os joelhos com os braços trémulos, o corpo todo dolorido, o olhar injectado de sangue e parado, como se quisesse sair das órbitas. Tremia, e o suor gelado percorria o seu corpo. Tinha medo, ou melhor, estava estarrecido e horrorizado por tudo o que lhe acontecia. Os nervos não obedeciam, pareciam petrificados. Não fechava os olhos com medo de que tudo aquilo voltasse. Cada vez que suas pálpebras fechavam, apareciam monstros horríveis arrastando-o para as profundezas de um mundo escuro, de onde provavelmente não teria retorno. Parecia que as paredes se iam juntando. Ele escondia a cabeça entre os braços, gritava, gritava, mas o som morria na garganta e não saia. As roupas não estavam amarrotadas, sujas e também molhadas, esticava as pernas e os braços, na esperança que esse pesadelo passasse, pedia, implorava, que alguém o ajudasse afastando esses monstros que não o deixavam em paz. Mas, estava só com a sua vaidade no chão, e onde estava toda aquela arrogância? A chorar, de joelhos, desesperado… Com muito esforço, pois não conseguia se movimentar, juntando as mãos em forma de súplica disse:
“ - Oh! Meu Deus! Porque fui entrar nisto? Que experiência triste, quanto tempo perdido e mal gasto. Hoje sinto-me como um farrapo humano lançado pela sarjeta da vida, sem futuro e só depois de tantas incertezas, sinto-me como um verdadeiro idiota.”
Ali em cima da mesa ainda estava o restante da sua fraqueza, que parecia rir deste pedaço de homem que chegou até o fim do poço.
Quando sob o efeito da droga sentia-se um vencedor, forte, inteligente, o maior corajoso, mas a verdade é que mal o efeito passava, estava como se fosse o último degrau da degradação, onde já não se via como um ser humano, mas como um bicho.
Até morrer. Sem nunca ter vivido e aprendido a amar.
Nunca é tarde demais, mas a verdade é que a vontade é pouca. E nós pouco podemos fazer. Sigam o exemplo recente da morte de uma das vozes mais incríveis da história da música, aos 27 anos. Um farrapo humano. Aliciada pelo mundo das drogas e do álcool.
Queres também tu ser um farrapo?

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